São seis horas da manhã e eu acabei de chegar em casa. A última música da festa ainda ecoa nos meus pensamentos misturando-se com as sensações da noite. Vários drinques, beijos roubados e olhares abusados. Não me lembro se fiquei com cinco ou oito caras mas tenho a certeza de que não foi bom com nenhum deles. Se fosse, certamente eu lembraria dos nomes e rostos. Sei lá. Está cada vez mais difícil ligar os nomes aos encontros quase que sempre terminados em sexo.
Minha cama está uma zona. Maquiagens, perfumes e chapinhas estão jogados. Consigo me lembrar de ontem quando estava aqui me arrumando e me assusto ao olhar no espelho e ver que o que sobrou de maquiagem no meu rosto está borrado. Droga. Como sempre, jogo tudo no chão e deito do jeito que der. Agradeço por dormir sozinha - dormir com alguém toda noite deve ser um saco.
Me sinto uma biscate. Ou melhor.. quase biscate. Tenho a consciência de que estou sozinha porque ainda não encontrei alguém que possa suprir todas as minhas necessidades (não só as sexuais). Enquanto não encontro um príncipe encantado vou me divertindo com os milhares de errados.
E quer saber? É divertido mesmo. Vários beijos, camas, descobertas, lugares, fetiches e liberdade. Liberdade para ir ou vir, começar ou terminar, dar ou fazer doce. É a vida que optei. Não tenho filhos, minhas contas estão todas pagas e eu posso não levar uma vida exemplar ou maravilhosa, mas sou feliz estando nela. Assim como muitos outros caras que saem por aí beijando dez meninas em uma só noite. Não luto por direitos iguais mas luto pra fazer o que eu tiver vontade.
Ser biscate não é fácil. Seus pais sempre acham que você está com alguma doença, suas amigas não confiam em você e os caras sempre te encararão como um brinquedo. Até suas amigas biscates não deixarão os namorados delas perto de você. Nem biscate confia em biscate. É o fim dos tempos.
Decidi ser biscate porque é uma ocupação passageira. Não dá pra ser biscate a vida inteira. Ou sua beleza some ou acabam as opções de homens pra pegar. Figurinha repetida não vale! Orgulho de biscate é pegar um homem a cada noite - ou vários. É passar na rua e receber olhares de todos: homens e mulheres. É se sentir sexy enquanto dança, rebola e mostra a calcinha. Ser biscate é uma coisa pra mulher corajosa.
Biscate não pensa só em sexo ou dinheiro. Pensa também no corpo, no que vai comer a noite e quais são seus sonhos. Eu, por exemplo, tenho sonhos. Penso em ser advogada. Inverter os papéis e começar a julgar as pessoas - assim como me julgam. Eu também tenho o sonho de casar na igreja. Casar de branco mesmo, com música clássica e uma filhinha de dama de honra. Minhas amigas até riem quando falo isso.
Parece que biscate não pode sonhar. Parece que a roupa curta nos define e o tanto de caras que ficamos nos distanciam dos nossos objetivos. Eu não acho isso e estou aí pra provar. Vou casar, ser advogada e ter meus dois ou três filhos. Deixar de ser biscate na rua e ser somente para o cara que enxergar minhas qualidades além do kamasutra.
Eu poderia passar horas escrevendo aqui mas biscate também dorme. Dorme, come, faz academia, estuda e também trabalha. Há várias outras biscates espalhadas por aí e eu sei que você conhece alguma e talvez até tenha identificado ela aqui nesse texto. Ser biscate é isso. Ser clichê, sem mistérios e qualquer um por aí pode te ver como tal (até se você não for).
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